por Valdir
Steuernagel
Aliança Evangélica
Cristo
ressuscitou! A partir do domingo de Páscoa, em seu calendário litúrgico, a
igreja estará afirmando, sempre novamente, que Cristo ressuscitou. E essa
ressurreição faz toda diferença do mundo. Ela é um ato fundamental e absoluto
de Deus que afirma a esperança e anuncia uma nova possibilidade. Nem mesmo a
morte é definitiva, pois a ressurreição é uma realidade.
Como igreja,
nós anunciamos e somos chamados a viver a ressurreição a cada dia em meio à
realidade que nos cerca e tanto em seu nível micro como macro.
Nossa nação
está vivendo dias conturbados e tensos. O país parece paralisado e está
raivoso. Dividido e conflitado. O povo está na rua e diferentes bandeiras estão
sendo levantadas e um crescente clima de descrença no nosso sistema político se
instaura. A Lava Jato não para de nos surpreender com seguidas operações e sabemos
que isto é apenas o começo, apesar dos seus dois anos, na esteira da possível e
necessária revelação de um caudal de lama corruptora e injusta que marca a
nossa história e afeta todos os segmentos de nossa vida nacional, seja da parte
do político que faz conchavos, do empresário que quer o contrato ou o gesto
corriqueiro de querer “comprar” o guarda para não receber a multa.
Essa é a
realidade do nosso país, que poderia ser descrita de muitas outras formas. Mas
não é suficiente descrevê-la ou simplesmente fazer parte dela com a sua
desesperança, raiva e indignação. É preciso transformá-la, e isso é marca do
evangelho.
É tempo de
ressurreição – e isto significa possibilidade de conversão e de esperança.
Significa que a igreja e os cristãos precisam vivenciar um testemunho que
aponte para Cristo e para a vivência de uma esperança que transforme a
realidade. É claro que isto significa muitas coisas, mas eu só gostaria de
apontar para algumas pistas:
Somos filhos do amor de Deus e buscamos a
construção de uma sociedade onde as pessoas se encontrem.
Nossa
sociedade está com os nervos à flor da pele. As brigas vêm rápido e já tememos
cenas de violência explícita. É preciso desconstruir esse círculo de
animosidade e de confronto ideológico; e é preciso que os cristãos se disponham
a fazer isso. A confissão da nossa fé precisa ter uma expressão pacificadora.
Nós propomos espaços de encontro sem derramamento de sangue e sem raiva nos
olhos. Precisamos construir o Brasil para fora da presente crise.
Queremos a justiça e somos a favor da
verdade!
Aprendemos
com a Palavra de Deus e com a própria experiência histórica que não existe
conciliação e reconciliação sem verdade, assim como não existe justiça sem
verdade. Este é um momento propício para desvelarmos algumas das mentiras que
fazem parte da nossa "cultura do jeitinho" e de levar vantagem. Essa
cultura no exercício do poder, leva a esquemas de corrupção tão intensos, corriqueiros e volumosos que
consideramos difícil de acreditar, como vemos neste momento. O atual processo
investigador não pode ser nem sustado, nem domesticado. É preciso ir fundo,
ainda que vá longe e continue a nos assustar. E ao ir fundo e longe, também as
nossas instituições religiosas não estão isentas de serem perscrutadas e
avaliadas. Nós afirmamos que a justiça e a verdade precisam ter espaço para
reinar entre nós e a partir de nós ao ponto de trazer nova esperança para a
nossa gente e o nosso Brasil.
A democracia é tênue, mas é o melhor que
temos.
Pode-se
dizer que a democracia se constrói devagar e se mancha fácil. A Constituição de
1988, ainda é tênue, parcial e tem sido administrada por uma expressão política
maiormente clientelista e utilitária. Assim, temos hoje um Brasil sem reforma
política, em caos político, com instituições de estado frágeis e marcado por
uma grave crise econômica. Um momento difícil a carecer de lideranças sólidas,
compromissos claros e no qual, acima de tudo, as nossas instituições precisam
funcionar para todos e ter as suas decisões respeitadas. A Constituição de 1988
trouxe uma segurança e uma estabilidade que precisa ser respeitada neste Brasil
da crise e no Brasil pós-crise. Nós afirmamos a democracia, os Poderes e as
suas respectivas áreas, bem como a construção de uma sociedade que afirme uma
cultura de integração, paz e proteção dos pequenos e mais vulneráveis.
Neste tempo
pascoal, nós afirmamos que a esperança é filha da ressurreição. É verdade que
vivemos dias conturbados, mas também é verdade que estes não têm a última
palavra. A última palavra é pronunciada por Deus e Ele nos anuncia que tem
caminhos novos para todos que vivemos neste nosso tempo e neste nosso lugar. E
o melhor que Ele tem para nós passa pela justiça, verdade, cuidado mútuo e
vivência de comunidade. Por estes valores nos pautamos nestes dias e pela
realização dos mesmos oramos, assim como a igreja tem orado no decorrer da
história: PAI NOSSO, SEJA FEITA A TUA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU.
http://www.aliancaevangelica.org.br/news/0022-2016/