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segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Leitura Devocional da Bíblia


(Rev. Ricardo Barbosa de Souza - adaptado)

Uma das grandes preocupações que envolve a experiência espiritual hoje é o analfabetismo bíblico cada vez mais crescente nas novas gerações de cristãos. O desinteresse pela Bíblia é alarmante.

A inquietação, o frenesi, a busca louca e insana por experiências nunca satisfazem a alma. Precisamos de um manancial perene de águas que satisfazem a sede do coração. Gostaria de propor um velho caminho para a leitura bíblica chamada “lectio divina”, ou leitura devocional.

Leitura devocional é uma forma disciplinada de devoção e não mais um método de estudo bíblico. Não me refiro aqui à leitura indutiva que fazemos quando procuramos investigar o texto bíblico, ou àquela na qual buscamos respostas mais imediatas para conflitos diários, nem mesmo a leitura de onde saem os sermões e estudos bíblicos. Pelo contrário, a leitura devocional nunca deve ser usada para algum outro propósito utilitário ou pragmático. É feita pura e simplesmente para conhecer a Deus, colocar-se diante da Sua Palavra e ouvi-lo. Esta atitude de silêncio, reverência, meditação e contemplação define a postura de quem deseja aproximar-se da Palavra de Deus.

O Reverendo Eugene Peterson chamava esta leitura de “exegese contemplativa”. Para ele, trata-se de uma leitura bíblica usada pela igreja em sua história. A exegese contemplativa não diminui o lugar da exegese técnica e teológica, porém nenhuma técnica produz alimento ou cura, bem como nenhuma informação produz conhecimento. Segundo ele, existe algo vivo em um livro, algo mais do que palavras ordenadas, existe uma alma. A descoberta da exegese contemplativa começa com a percepção de que toda a palavra é basicamente e originalmente um fenômeno sonoro e não impresso. Palavras são faladas antes de serem escritas, são ouvidas antes de serem lidas. As palavras de Jesus que ficaram e que são necessárias para a nossa salvação, são aquelas que foram ouvidas, saboreadas, digeridas, repetidas e pregadas, num processo dinâmico, envolvendo a comunidade dos crentes. “Lectio divina” é uma leitura para transformação.

São quatro os estágios pelas quais passamos ao nos dedicarmos à leitura devocional: leitura, meditação, oração e contemplação. Cada um nos conduz inevitavelmente ao outro. A leitura, quando feita repetidamente e com reverência, conduz à reflexão que muitas vezes vem acompanhada de uma visualização da cena bíblica. Essa atitude de permitir que o texto nos conduza imaginativamente é que os antigos chamavam de meditação. A meditação produzirá um desejo de falar com Deus e este movimento do coração em direção a Deus é o começo da oração. Contemplação é o ponto alto da experiência da oração; é a profunda comunhão com Deus que nos envolve completamente e transforma nossa vida.

Todo relacionamento pessoal requer tempo, esforço e atenção. A prática diária da leitura devocional estabelece um padrão que se transforma na base para um relacionamento sério e profundo com Deus. Talvez, por exigir tempo e uma abordagem não direcionada, objetiva, com resultados concretos, a leitura devocional não tem grande aceitação no mundo moderno caracterizado pela sua praticidade, racionalidade, superficialidade, impessoalidade e urgência.

A prática desse exercício espiritual trará também grande influência nas nossas relações interpessoais, pois nos ajudará a ouvir melhor os outros, deixando que eles mesmos se revelem a nós evitando a precipitação dos nossos juízos preconceituosos.

Ler a Bíblia não é sempre a mesma coisa que ouvir a Deus. Uma ação nem sempre implica outra. Ouvir a Deus exige uma postura, uma atitude diante de Sua Palavra. A leitura devocional é uma forma de nos colocarmos diante de Deus e Sua Palavra como de fato deseja ouvir, meditar, orar e contemplar. É dessa postura que nasce, não apenas o prazer pela Palavra de Deus, mas também a experiência transformadora do poder da Graça Divina.