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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Oração



Trecho do texto de N. T. Wright:
Integridade e Integração: Amando a Deus com Coração, Mente, Alma e Força
(Disponível em http://ntwrightpage.com/port/Integridade.pdf)

Algumas vezes, quando falo sobre oração, eu tenho a impressão de que para muitos cristãos isto é chato: todos sabemos que devemos orar, que deveríamos orar mais, mas nós todos acabamos por fazer de nossas maneiras tradicionais de orar mais uma obrigação do que um prazer.

Bem, a boa notícia é que há mais na oração do que frequentemente percebe o olho, incluindo olhos cristãos, e parte do mandamento de amar a Deus com coração, mente, alma e força é descobrir diferentes formas de nos abrirmos em amor e gratidão, em louvor e súplica, diante do Deus que nos ama e nos chama para amá-lo.

A tradição beneditina fala de trabalho como um tipo de oração, e meu testemunho como um acadêmico cristão é que de fato isto pode se tornar realidade.

Muitos artistas e músicos falam de seu trabalho como um modo de oração, e certamente seu efeito sobre nós indica que algo assim deve ser verdade.

Não conheço muitos políticos que falam de seu trabalho desta forma e talvez isso seja parte do problema que nós enfrentamos hoje.

O que eu sei é que a vida de oração é maior, mais rica, mais exigente e mais prazerosa do que a maioria de nós jamais sonhou, e que em sua essência é apenas isto, o chamado para amar a Deus com o nosso ser inteiro, transformando-o em palavras em horas formais de oração, deixando-o descansar no silêncio da contemplação, e colocando-o para trabalhar em nossos vários chamados. 

E será assim ao nos dedicarmos à oração, sozinhos e em público, em ocasiões formais e informais, em breves momentos e em horas contínuas, que nós descobriremos o que Jesus quis dizer com amar a Deus com nosso ser inteiro, e iremos além dos sacrifícios e ofertas da cultura ocidental contemporânea, em direção ao novo mundo que Deus quer que nós criemos com ele e sob sua direção.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

BONHOEFFER E A LIBERDADE CRISTÃ

"Sentado no jardim do seminário, tive tempo de pensar e orar no que se refere à minha situação e a da minha nação, obtendo algumas luzes sobre a vontade de Deus. Cheguei à conclusão que cometi um erro em vir para os Estados Unidos. Nesse período difícil da história da minha pátria, devo viver junto com o meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não tiver compartilhado com meu povo as provas desse período. Os cristãos alemães terão que enfrentar a terrível alternativa de desejarem a derrota de sua pátria para a salvação da civilização cristã ou de desejarem a vitória de sua pátria e, conseqüentemente, a destruição de nossa civilização. Eu sei a escolha que devo fazer, porém não posso fazê-la e manter-me ao mesmo tempo em segurança".
Carta de despedida para o professor Reinhold Niebuhr.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), teólogo, obteve o título de doutorado com 21 anos. Depois de trabalhar em algumas igrejas na Europa e EUA foi reitor e professor do Seminário da Igreja Confessante na Alemanha, ala da igreja evangélica que não aderiu à política nacional socialista na primeira metade do século XX. Após o seminário ser fechado pela polícia nazista, Bonhoeffer se engajou no movimento de resistência contra Hitler, inclusive participando de uma conspiração para assassiná-lo. Foi morto aos 39 anos, poucos meses antes da 2ª Guerra terminar.
Em sua cela de prisão, foi encontrado esse lindo poema que aponta para o caminho da verdadeira liberdade cristã:
Estações na Estrada para a Liberdade ― 21 de abril de 1944
DISCIPLINA
Se buscas a liberdade, então aprende acima de tudo a disciplina da alma e dos sentidos, para que tuas paixões e teus membros não te conduzam em confusão de lá para cá. Castos sejam teu espírito e teu corpo, sujeitos à tua própria vontade, e obedientes para alcançarem o alvo para o qual eles te foram dados. Ninguém descobre o segredo da liberdade a não ser pelo autocontrole.
AÇÃO
Tenha coragem para fazer o que é justo e não o que a fantasia possa pedir; não percas tempo com o que pode ser, mas, corajosamente, apega-te ao que é real. O mundo das idéias é fuga; a liberdade só vem pela ação. Vigia além da ansiedade que espreita e dentro da tempestade de eventos, carregado somente pela ordem de Deus e por tua própria fé; então a liberdade exultantemente clamará para receber teu espírito.
SOFRIMENTO
Maravilhosa transformação! Tuas fortes e ativas mãos estão agora atadas. Impotente, solitário, vês o fim da tua ação. Impávido, inspiras profundamente e entregas tua luta por justiça ― silenciosamente e em fé ― à mão mais poderosa. Por apenas um inebriante instante, experimentas a doçura da liberdade; então a estendes a Deus, para que ele a torne completa.
MORTE
Vem agora, o ponto alto na estrada para a liberdade eternal. Morte, deixa cair as pesadas e sombrias correntes e destrói as paredes de nosso corpo mortal ― as paredes de nossa alma cega ― para que possamos, finalmente, ver o que os mortais nos tem impedido de ver. Liberdade, por quanto tempo a procuramos por meio da disciplina, da ação e do sofrimento. Morrendo, agora vemos tua face em favor de Deus.


terça-feira, 5 de julho de 2016

Ouvindo a Voz de Deus!



TEXTO: Jeremias 18.1-6

1 - O Senhor Deus me disse:
2 - Desça até a casa onde fazem potes de barro, e lá eu lhe darei a minha mensagem. 3 - Então eu fui e encontrei o oleiro trabalhando com o barro sobre a roda de madeira. 4 - Quando o pote que o oleiro estava fazendo não ficava bom, ele pegava o barro e fazia outro, conforme queria.
5 - Aí o Senhor me disse:
6 - Será que eu não posso fazer com o povo de Israel o mesmo que o oleiro faz com o barro? Vocês estão nas minhas mãos assim como o barro está nas mãos do oleiro. Sou eu, o Senhor, quem está falando.

Jeremias foi um dos grandes profetas de Deus em seu tempo. Ao ler este livro tão precioso da palavra de Deus, podemos perceber o quanto ele era sensível a voz do Senhor. Deus não mudou (Deus não precisa rever seus conceitos) e nunca mudará. Ele é o mesmo Deus que falava com Jeremias e através dele. Hoje, Deus se revela a nós, mas muitas vezes não percebemos. Estamos tão ocupados, tão atarefados que não conseguimos entender quando Ele nos fala. Isto, entretanto é extremamente perigoso, pois, terminamos por viver segundo nossas vontades, nossos conceitos, nosso coração e podemos nos enganar (Jr 17.9). Então, que tal ouvir a voz de Deus através da sua palavra e da oração?

Sem. Hevandro

sábado, 2 de julho de 2016

Entre as multidões e os discípulos


Ricardo Agreste

Como um cristão num país chamado Brasil, ao longo dos anos, tive que me habituar a observar e identificar dois ambientes bem distintos, nos quais a espiritualidade é exercida em nossa cultura. Um deles é o ambiente caracterizado pela “espiritualidade das multidões”, a qual se mostra confusa e sincrética, e diante da qual sempre me senti um tanto quanto resistente. O outro é caracterizado pelo que chamarei, mesmo correndo o risco de ser tido como pretensioso, de “espiritualidade dos discípulos”. Este é um modelo que sempre me pareceu mais consciente e coerente.

É preciso reconhecer que, diante destes dois modelos de espiritualidade, minha formação me condicionou a olhar com um perigoso desprezo para a espiritualidade das multidões. Ao longo da caminhada cristã, por muitas vezes, tenho ouvido que as multidões são inconstantes e utilitaristas. Elas estão sempre em busca do milagre imediato – aquela bênção que leva à cura da enfermidade, à solução para o problema financeiro. Fui também induzido a pensar que a genuína espiritualidade emerge de uma relação de discipulado com Cristo, baseada numa decisão consciente. Assim, somente a partir de uma entrega total de nossa vida ao Senhor e um compromisso de obediência à sua voz é que podemos experimentar a genuína espiritualidade. Por isso mesmo, precisamos tomar cuidado com a distração gerada pelas multidões e concentrar-nos na produção artesanal de discípulos de Cristo.

No entanto, relendo os Evangelhos, fui surpreendido, mais uma vez, pela pessoa de Jesus e suas atitudes. Confesso que, num determinado momento, esta surpresa tornou-se muito próxima de um sentimento de indignação em relação a ele, ao perceber que sua postura ia na contramão de tudo quanto eu cria e defendia. Foi quando fui surpreendido pela segunda vez; agora, contudo, comigo mesmo, quando constatei que meus sentimentos estavam bem mais próximos daqueles que, nos evangelhos, são chamados de fariseus e escribas do que dos verdadeiros seguidores de Cristo.

Jesus observou as multidões e foi tomado por uma profunda compaixão por elas, conforme os relatos de Mateus 9.36 e 15.32. Percebemos que o Filho de Deus, apesar de saber que aqueles homens e mulheres eram muitas vezes movidos por interesses não muito nobres – e não poucas vezes eram tomados pelas tais tendências utilitaristas de fé –, não deixava de sentir compaixão por eles. Muito pelo contrário; ele reconhecia que interesses difusos e tendências pragmáticas eram decorrentes do fato de estarem cansados e aflitos, como ovelhas sem pastor.

Os evangelhos nos apresentam um Jesus engajado no serviço às multidões, curando aqueles que tinham necessidade, expulsando os demônios dos que estavam oprimidos e anunciando o Evangelho do Reino como uma dádiva estendida a todos pelo amor e pela bondade de Deus. Em alguns momentos de seu ministério, cercado pelas multidões, o Mestre desafiou seus discípulos a não apenas olharem para elas com compaixão, mas, seguindo seu próprio exemplo, a servi-las. Diante disso, seus seguidores procuraram todas as formas de dissimulação, alegando os mais variados tipos de dificuldades. No entanto, Cristo foi enfático, ordenando que eles mesmos servissem àquelas pessoas envolvidas pelo modelo de espiritualidade que constantemente acusamos de ser inconsistente e utilitarista, conforme Mateus 14.15-16.

Não se trata de negar o fato de que Jesus tinha um grupo de discípulos com o qual gastava um tempo de maior qualidade e profundidade nos ensinamentos. Nem mesmo se pode negar que a genuína espiritualidade deve ser construída a partir da fé consciente na pessoa de Jesus, como o Deus encarnado que entra na história para morrer em nosso lugar. No entanto, o que se deve questionar é todo e qualquer modelo de espiritualidade que, em nome do discipulado com qualidade, gera discípulos que não sentem compaixão e não sabem conviver com as multidões aflitas e exaustas. 

Jesus, com a sensibilidade do Deus que é amor e com a sabedoria daquele que é o criador do universo, entrava em contato com o sofrimento das multidões, acolhendo-as em suas limitações teológicas e em suas motivações utilitaristas. A partir desse encontro de amor, fez de homens e mulheres verdadeiros discípulos! Da mesma forma, aqueles que se afirmam seus seguidores deveriam aprender a olhar com compaixão para as multidões e engajar-se no serviço a elas com amor e dedicação, criando oportunidades para que todos venham a compreender quem é Jesus e possam render-se ao seu amor. Então, alguns homens e mulheres, anônimos nas multidões, ganharão identidade ao deixarem de ser apenas consumidores de sua compaixão para se tornarem agentes da mesma.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Leitura Devocional da Bíblia


(Rev. Ricardo Barbosa de Souza - adaptado)

Uma das grandes preocupações que envolve a experiência espiritual hoje é o analfabetismo bíblico cada vez mais crescente nas novas gerações de cristãos. O desinteresse pela Bíblia é alarmante.

A inquietação, o frenesi, a busca louca e insana por experiências nunca satisfazem a alma. Precisamos de um manancial perene de águas que satisfazem a sede do coração. Gostaria de propor um velho caminho para a leitura bíblica chamada “lectio divina”, ou leitura devocional.

Leitura devocional é uma forma disciplinada de devoção e não mais um método de estudo bíblico. Não me refiro aqui à leitura indutiva que fazemos quando procuramos investigar o texto bíblico, ou àquela na qual buscamos respostas mais imediatas para conflitos diários, nem mesmo a leitura de onde saem os sermões e estudos bíblicos. Pelo contrário, a leitura devocional nunca deve ser usada para algum outro propósito utilitário ou pragmático. É feita pura e simplesmente para conhecer a Deus, colocar-se diante da Sua Palavra e ouvi-lo. Esta atitude de silêncio, reverência, meditação e contemplação define a postura de quem deseja aproximar-se da Palavra de Deus.

O Reverendo Eugene Peterson chamava esta leitura de “exegese contemplativa”. Para ele, trata-se de uma leitura bíblica usada pela igreja em sua história. A exegese contemplativa não diminui o lugar da exegese técnica e teológica, porém nenhuma técnica produz alimento ou cura, bem como nenhuma informação produz conhecimento. Segundo ele, existe algo vivo em um livro, algo mais do que palavras ordenadas, existe uma alma. A descoberta da exegese contemplativa começa com a percepção de que toda a palavra é basicamente e originalmente um fenômeno sonoro e não impresso. Palavras são faladas antes de serem escritas, são ouvidas antes de serem lidas. As palavras de Jesus que ficaram e que são necessárias para a nossa salvação, são aquelas que foram ouvidas, saboreadas, digeridas, repetidas e pregadas, num processo dinâmico, envolvendo a comunidade dos crentes. “Lectio divina” é uma leitura para transformação.

São quatro os estágios pelas quais passamos ao nos dedicarmos à leitura devocional: leitura, meditação, oração e contemplação. Cada um nos conduz inevitavelmente ao outro. A leitura, quando feita repetidamente e com reverência, conduz à reflexão que muitas vezes vem acompanhada de uma visualização da cena bíblica. Essa atitude de permitir que o texto nos conduza imaginativamente é que os antigos chamavam de meditação. A meditação produzirá um desejo de falar com Deus e este movimento do coração em direção a Deus é o começo da oração. Contemplação é o ponto alto da experiência da oração; é a profunda comunhão com Deus que nos envolve completamente e transforma nossa vida.

Todo relacionamento pessoal requer tempo, esforço e atenção. A prática diária da leitura devocional estabelece um padrão que se transforma na base para um relacionamento sério e profundo com Deus. Talvez, por exigir tempo e uma abordagem não direcionada, objetiva, com resultados concretos, a leitura devocional não tem grande aceitação no mundo moderno caracterizado pela sua praticidade, racionalidade, superficialidade, impessoalidade e urgência.

A prática desse exercício espiritual trará também grande influência nas nossas relações interpessoais, pois nos ajudará a ouvir melhor os outros, deixando que eles mesmos se revelem a nós evitando a precipitação dos nossos juízos preconceituosos.

Ler a Bíblia não é sempre a mesma coisa que ouvir a Deus. Uma ação nem sempre implica outra. Ouvir a Deus exige uma postura, uma atitude diante de Sua Palavra. A leitura devocional é uma forma de nos colocarmos diante de Deus e Sua Palavra como de fato deseja ouvir, meditar, orar e contemplar. É dessa postura que nasce, não apenas o prazer pela Palavra de Deus, mas também a experiência transformadora do poder da Graça Divina.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Amizades Espirituais


Ed René Kivitz

Earl C. Willer conta a história de Jim e Phillip, dois meninos que cresceram juntos e se tornaram melhores amigos. Atravessaram a adolescência e a juventude juntos, e depois de formados na universidade decidiram ser tornar marines, os fuzileiros navais norte-americanos. Por uma casualidade rara, foram enviados para a Alemanha e lutaram lado a lado em uma das mais cruéis batalhas da Segunda Guerra Mundial. No meio da batalha, sob fogo cruzado, explosões e muitas perdas, receberam ordem do comandante para que recuassem. Enquanto corriam em fuga, Jim percebeu que Phillip não estavam com os que voltavam. Entrou em pânico, pois sabia que se Phillip não retornasse em uns dois minutos, provavelmente nunca mais o faria. Pediu ao comandante para que o deixasse voltar para buscar o amigo, mas não obteve permissão, sob a justificativa de que seria suicídio.

Arriscando a própria vida, Jim desobedeceu à ordem e voltou ao encontro de Phillip. Com o coração quase explodindo e sem fôlego, sumiu entre a fumaça, gritando pelo nome do amigo. Poucos instantes depois, tinha o amigo ferido nos braços, e tudo quanto conseguiu foi presenciar o último suspiro de vida de Phillip.

Ao regressar para juntar-se aos outros soldados, o comandante estava aos berros. Dizia que aquele fora um ato impensado, tolo, inconseqüente e inútil. “Seu amigo estava morto, e não havia nada que você pudesse fazer.” ”O Senhor está errado”, replicou Jim. “Cheguei a tempo. Antes de morrer, suas ultimas palavras foram: ‘Eu sabia que você viria’”.

Esta história pequena e verídica, registrada por John Maxwell em seu livro “The theasure of a friend”, conduziu-me a muitas reflexões a respeito da amizade genuína e despertou em mim alguns sentimentos extraordinários. Vivemos a era da tecnologia, em que o valor de todas as coisas deriva de sua funcionalidade e eficiência. Tudo ao nosso redor vai aos poucos se tornando maquina de manipulação a serviço de nosso conforto e conveniência. Experimentamos um tipo de tecnostress, tentando equilibrar uma parafernália eletrônica que nos oprime com sues botões e suas falsas promessas de facilitação e simplificação da vida.

A maneira que nos relacionamos com os objetos é transferida para as pessoas. [...]

Talvez de tão acostumados a interagir com secretárias eletrônicas já não saibamos o que fazer, com que tom falar, com que dosagem de afetividade temperar a fala quando alguém de carne que osso nos atende. E assim vamos tocando os dias: maridos usando esposas, filhos usando pais, patrões usando funcionários, pastores usando seus rebanhos, empreendedores usando seus clientes, numa fila interminável de relacionamentos utilitaristas, que acontecem dinâmica de um vice-versa sem fim.

Com isso, perdemos a capacidade de estar ao lado desinteressadamente mesmo quando a única coisa que se pode fazer é estar ao lado. Manipuladores de máquinas, formos mordidos pelo vírus da onipotência que a tudo pretende fazer funcionar, e já não admitimos que há momentos na vida quando tudo o que podemos fazer é estar ao lado e ouvir: ”Eu sabia que você viria”. [...]

Chega de campanhas políticas, apelos institucionais, convocações para a “obra do Senhor”, atividades religiosas e frenesi expansionista. Já é hora de pagar o preço, qualquer que seja ele, de fazer parte de uma comunidade espiritual, e não de uma organização eclesiástica.


Já é hora de nos lembrarmos que “não sois máquinas, homens é que sois”, como profetizou a “pedra” chamada Chaplin [Lc 19.40]. Quero amigos. Amigos que voltem ao campo de batalha e arrisquem a vida por mim. Amigos que me tomem nos braços, ainda que seja quase tarde. E quero viver a altura de cada um deles.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Atitude de um sábio



O abade Abraão soube que perto do mosteiro havia um sábio. Foi procura-lo e perguntou:
- Se hoje você encontrasse uma bela mulher na sua cama, conseguiria pensar que não era uma mulher?
 Não – respondeu o eremita – mas conseguiria me controlar.
O abade continuou:
- E se descobrisse moedas de ouro em seu caminho, conseguiria ver esse ouro como se fossem pedras.
 Não. Mas conseguiria me controlar para deixa-las onde estavam.
- E se você fosse procurado por dois irmãos, um que o odeia e outro que o ama. Conseguiria achar que os dois são iguais.
Com tranqüilidade ele respondeu.
 Mesmo sofrendo eu trataria o que me odeia da mesma maneira que trataria o que me ama.
Naquela noite, ao voltar para o mosteiro, o abade falou aos seus noviços:
- Vou lhes explicar o que é um sábio:
É aquele que, em vez de matar suas paixões, consegue controla-las.

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Controlar ou resistir às paixões, aos desejos, às ambições não é fácil. É como um vício que se instala em você e te torna dependente. Para dominá-lo, você não pode, simplesmente, ignorá-lo ou negá-lo. Torna-se cada vez maior a pressão. Será como uma grande represa prestes a estourar.

Devemos, portanto, aprender como resistir.

O caminho de Deus para controlar as paixões é a graça disciplinada (R. Foster). É graça porque depende de Deus; é disciplinada porque tem algo que te cabe fazer. O contrário da graça não é esforço, é mérito. Disciplina não é castigo, é treinamento.

Assim, você deve enfrentar o inimigo interior junto com o Pai de amor (na graça do Filho e no poder do Espírito). Ele te acompanhará no processo e te ensinará a resistir: “Sujeitem-se, portanto, a Deus, resistam ao diabo e ele fugirá de vocês” (Tiago 4.7).

Saiba, também, que existem muitas maneiras de resistir ao mal. Busque a orientação específica para cada situação em oração, com ajuda de bons amigos e bons livros e através da meditação na Bíblia.

Tire, ainda, um tempo para autoanálise:
1.   Quais paixões te seduzem? (o prazer, o dinheiro e a necessidade de aceitação são as paixões prediletas do ser humano caído).
2.   Quais palavras te ofendem? (elas mostram onde estão tuas paixões)
3.   Quais situações te deixam indignado? (elas apontam para a negação de paixões secretas)

E não esqueça: a verdadeira sabedoria está em seguir a Jesus e fazer a sua vontade. Um discípulo amado será sempre um eterno aprendiz. Que assim seja!


“Não importa quantas vezes nós fracassamos, quem é fiel a Deus não fica no chão por muito tempo” – Provérbios 24.16; Bíblia Mensagem.


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Jesus está voltando: plante uma árvore!


Jesus está voltando, então, plante uma árvore. Essa frase pode parecer tão engraçada quanto inesperada. Mas isso é porque, para muitos cristãos devotos, a segunda vinda é o momento em que o mundo, como o conhecemos, chega ao fim e Jesus leva seu próprio povo para o céu para viver ali com ele para sempre.
Se isso acontecerá, por que você plantaria uma árvore? Por que consertar um carro que está prestes a ser lançado do penhasco?
Entretanto, será esse o sentido da segunda vinda?
A questão de como você imagina o futuro final tem impacto claro e direto em como você compreende a missão da igreja hoje.
Se você imagina viver sob a teologia do “Deixados para trás” (a segunda vinda tem o sentido de resgatar o povo de Deus e levá-lo para outro lugar, enquanto esse mundo é destruído), o mundo presente será encarado como ruim. Então, sua missão será escapar desse mundo é permitir que o maior número de pessoas faça o mesmo. Por que se preocupar com a ecologia se tudo logo será destruído? Esse é o caminho que tem se aproximado demais do gnosticismo.
Se você ignora a segunda vinda como um ato de juízo e restauração, você tende a imaginar Deus aprimorando esse mundo até ele se tornar o lugar ideal que Deus intenciona. Então, sua missão será trabalhar em programas de melhoria social e cultural, incluindo o cuidado com o meio ambiente. Esse é o caminho iluminista da evolução pelo esforço humano.
Essas perspectivas, na verdade, podem ser encaradas como caricaturas. Temos de elaborar uma escatologia bíblica mais consistente e repensar nossa missão a partir disso.
Então, observe com atenção o extraordinário versículo de 1Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de vocês não será inútil.”
À luz de todo o capítulo de 1Coríntios 15, o qual trata sobre a ressurreição corporal de Jesus e da humanidade nessa terra, podemos relacionar a missão à ressurreição.
A ressurreição significa que aquilo que você faz é importante para Deus.
A ressurreição do mundo maravilhoso de Deus, a Nova Criação, começou com a ressurreição de Jesus e continua misteriosamente à medida que o povo de Deus vive no Cristo ressurreto e no poder e de seu Espírito.
Isso significa que o que fazemos nele e pelo seu Espírito no presente não é desperdício. Durará e será aperfeiçoado no novo mundo de Deus.
Deus, portanto, chama a humanidade para viver nele e, pelo poder do seu Espírito, sermos as pessoas da nova criação aqui e agora, criando sinais e símbolos do seu reino na terra como no céu.
Isso não significa que somos chamados para construir o reino por nossos próprios esforços, nem mesmo com a ajuda do Espírito. Quando vier, o reino final será um dom gratuito de Deus, um grande ato de graça e nova criação. Entretanto, somos chamados para edificar esse reino.
Como artesãos que trabalham em uma grande catedral, cada um de nós recebeu instruções sobre como entalhar uma pedra específica ao longo da vida, sem saber nem sequer deduzir qual será o lugar que ela ocupará dentro do grande projeto. Mas, sabemos que não será em vão. Isso diz tudo.
Na nova criação, o antigo mantado humano para cuidar do jardim é reafirmado de forma drástica, a fim de nos tornar os seres plenamente humanos que deveríamos ser.
Então, o que estamos esperando? Jesus está voltando. Vamos plantar essas árvores.

VEJA MAIS NO ENCONTRO 2 DA JORNADA BÍBLICA. (acesso à esquerda do blog).


terça-feira, 26 de abril de 2016

Recomeçar do jeito de Deus




Lucas 24.45-47

45 Então lhes abriu o entendimento, para que pudessem compreender as Escrituras. 46 E lhes disse: "Está escrito que o Cristo haveria de sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia, 47 e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém".





Uma psicóloga um dia me falou: UM DIAGNÓSTICO NUNCA TE DEFINE!

Você é mais do que um diagnóstico. Você pode se reinventar, não importa se você perdeu o emprego, está acometido por uma doença grave ou se tem problemas em sua família.

Sempre é possível recomeçar.

Ressurreição é recomeço.

Recomeçar, porém, não significa fazer novamente a mesma coisa.

É possível fazer diferente. É possível fazer do jeito de Deus.

No texto de Lucas, Jesus esclarece o que as escrituras já apontavam (não como “profecias” retiradas de passagens específicas, mas como a história inteira da revelação de Deus): o Messias ressuscitaria e a mensagem de arrependimento para o perdão de pecados seria pregada a todas as nações (v.47).

Essa é a grande motivação para reiniciar a vida: a ressurreição de Jesus indica a chegada de um novo tempo para o mundo, a partir do arrependimento e do perdão de pecados.

O que significa isso?

A tendência é pensar que eu deveria me arrepender de meus pecados e você dos seus, e que Deus nos perdoaria.

Entretanto, apesar da importância do aspecto individual do arrependimento e da necessidade de sermos perdoados por nossos pecados específicos, a orientação de Jesus para seus discípulos é muito mais abrangente.

A mensagem é uma confrontação. É anunciar que o jeito das pessoas viverem está desconectado com o jeito que Deus deseja que elas vivam.

Em outras palavras, é dizer: deixem de ser o povo que vocês são e sejam o povo que Deus quer que vocês sejam.

Ao mesmo tempo, a mensagem revela o jeito de Deus fazer as coisas: através do perdão.

Dessa forma, Deus, em Cristo, estabelece um jeito diferente de viver, um jeito caracterizado, em todos os níveis, pelo perdão.

Quando as pessoas vislumbram o perdão de Deus em Cristo e passam a ser agentes desse mesmo perdão, elas estão livres para recomeçar a viver do jeito certo.

Jesus, portanto, convoca o mundo inteiro a mudar de direção. 

A deixar-se conduzir pelo único e verdadeiro Deus, revelado no Messias Jesus.

E a ser livre escravidão do pecado para viver de um novo jeito, a partir do perdão.

Isso é tanto individual como coletivo.

A era de perdão, assim, está lançada em Jesus. Chegou a hora do reino de Deus. A nova criação foi inaugurada.

Arrependam-se, pois, e recomecem do jeito de Deus. A graça, o perdão e o amor estão esperando por você.


terça-feira, 19 de abril de 2016

A ressurreição e a espiritualidade do cotidiano

Lucas 24.28-32
28 Ao se aproximarem do povoado para o qual estavam indo, Jesus fez como quem ia mais adiante. 29 Mas eles insistiram muito com ele: “Fique conosco, pois a noite já vem; o dia já está quase findando”. Então, ele entrou para ficar com eles. 30 Quando estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. 31 Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram, e ele desapareceu da vista deles. 32 Perguntaram-se um ao outro: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?”.

É interessante como a ressurreição de Jesus acontece em meio ao cotidiano. Sua presença está naquilo de mais simples que fazemos como comer e beber.

Por que, então, deslocamos a experiência com Deus para esferas místicas e O esquecemos em nosso dia a dia?

Por que relacionamos nossa espiritualidade apenas com os momentos de oração e a desconsideramos em nosso árduo trabalho diário?

Infelizmente, nossa cultura tem separado dimensões que foram criadas para andarem juntas. 

Pensar que a espiritualidade é apenas uma experiência transcendente fere uma realidade cara para Jesus: a experiência humana.

A espiritualidade é a própria vida cristã. Tudo que fazemos como cristão é espiritualidade. 

Acordar pela manhã, tomar café, beijar a família, ir ao trabalho, desenvolver as atividades pertinentes do dia, voltar para casa, tomar banho e cair no sono devem ser experiências profundamente espirituais. 

Elas devem ser realizadas em Cristo.

Por mais importante que seja a oração e as experiências místicas, elas não limitam a nossa relação com o Deus criador, revelado em Jesus e presente em nosso meio através do Espírito.

Na verdade, quanto mais completa a nossa espiritualidade, mais humanos seremos.

Isso fica evidente com a ressurreição de Jesus.

Após uma longa caminhada com dois de seus discípulos (v.13), o Messias ressurreto se assenta na mesa da casa deles e parte o pão.

Com um gesto simples, Jesus entra no cotidiano dos discípulos e os faz “abrir os olhos” para a nova realidade do mundo: o reino de Deus havia chegado e o Messias estava presente com eles.

Intencionalmente, parece, Lucas nos lembra de Gênesis 3, quando os olhos dos nossos primeiros pais foram abertos para a realidade do mal. Agora, estão abertos para a realidade do único e verdadeiro Deus.

Perceba, isso tudo acontece na esfera do cotidiano. 

Não existe separação entre o mundo “espiritual” e o mundo “material”. 

Tudo é espiritual, pois acontece a partir do relacionamento com Deus.

A ressurreição de Jesus, enfim, é a inauguração da nova criação. Antecipamos essa realidade sempre que  vivemos a espiritualidade de maneira completa.

Vamos, então, estar atentos à presença do Cristo ressurreto em nossa casa e em nosso dia a dia.

Quem sabe perceberemos nosso coração queimando dentro do peito (v.32).

Ou, ainda, vamos chegar a uma linda conclusão: Jesus esteve falando conosco o dia inteiro.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Ressurreição e vida após a morte


Um dia, um amigo perguntou minha opinião a respeito de “vida após a morte”. Estávamos em um restaurante, muitas pessoas de diferentes perspectivas religiosas à volta, vários olhares e ouvidos atentos.

Minha resposta foi simples: RESSURREIÇÃO!

Apesar de contundente, falei tudo sem dizer nada. Ninguém entendeu minha mensagem. Ressurreição é uma imagem vaga para a maioria das pessoas. É associada com “passar para o outro lado”, numa perspectiva de almas ou espíritos que se livram do corpo mortal e renascem em outro plano.

Mas a tradição cristã (e a Bíblia!) diz que a “vida após a morte” culmina na ressurreição nessa Terra daqueles que estiverem em Cristo Jesus, após um período de espera ou de “descanso”. Como diria o teólogo N.T. Wright: ressurreição é a “vida após a vida após a morte!”. Isso significa, novos corpos e novas almas em um novo mundo. Tudo será transformado (cf. 1Coríntios 15).

Então, depois de ver naquele restaurante tantas expressões de frustração com a minha perspectiva, comecei a pensar em uma resposta mais significativa.

Acho que encontrei!

Se, novamente, for interpelado por alguém com a pergunta “o que significa para você vida após a morte”, minha resposta será simplesmente: uma borboleta.

Sim, a ressurreição pode ser vista como a vida de uma borboleta. 

Em Cristo, vivemos como lagartas na terra, passamos um tempo como crisálidas no "céu" e ressurgimos novamente na terra como lindas borboletas.

Tudo será transformado, não apenas o corpo, mas nosso ser integral: pensamentos, emoções, físico, espiritualidade, tudo.

Acredito ser essa a direção que a Bíblia nos dá. É claro, existe muito para falar a respeito desse assunto. E muitas perguntas no ar.

É, como toda perspectiva religiosa, polêmica.

Mas expresso aqui, embora de forma rudimentar, minha opinião.

Para quem quiser saber mais detalhes, recomendo o livro “Surpreendido pela Esperança”, de N.T. Wright, Editora Ultimato.

Que Jesus Cristo ressurreto nos abençoe e nos guie em seu caminho de fé, esperança e amor.


Pr. Vinicius


quarta-feira, 6 de abril de 2016

A surpresa da ressurreição!


Está em cartaz o filme Ressurreição.

É um filme simples, de baixo orçamento, sem grandes efeitos especiais. Mas retrata o impacto que a ressurreição de Jesus deve ter na vida de todos nós.

O filme começa com a captura de Barrabás logo após a crucificação de Jesus. Barrabás afirma sua fé no Messias que ainda viria como um grande líder, a fim de acabar com a farra dos Romanos. Esse Messias, portanto, não poderia ser alguém crucificado.

Depois, o filme mantém o foco na incapacidade do centurião romano Clávios de aceitar a ressurreição de Jesus, apesar de várias evidências. Clávios parte, então, em busca do corpo desaparecido. Até encontrar o Messias vivo.

Essa é a questão: tanto para Barrabás como para o centurião romano, a ressurreição do Messias Jesus não faz sentido. Está fora de seus padrões lógicos. Não encaixa.

Isso também aconteceu com os discípulos. Isso acontece conosco ainda hoje.

Lucas 24.1-12

1 No primeiro dia da semana, de manhã bem cedo, as mulheres levaram ao sepulcro as especiarias aromáticas que haviam preparado. 2 Encontraram removida a pedra do sepulcro, 3 mas, quando entraram, não encontraram o corpo do Senhor Jesus. 4 Ficaram perplexas, sem saber o que fazer. De repente, dois homens com roupas que brilhavam como a luz do sol colocaram-se ao lado delas. 5 Amedrontadas, as mulheres baixaram o rosto para o chão, e os homens lhes disseram: Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que vive? 6 Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se do que ele lhes disse, quando ainda estava com vocês na Galiléia: 7 “É necessário que o Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”. 8 Então se lembraram das palavras de Jesus. 9 Quando voltaram do sepulcro, elas contaram todas estas coisas aos Onze e a todos os outros. 10 As que contaram estas coisas aos apóstolos foram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago, e as outras que estavam com elas. 11 Mas eles não acreditaram nas mulheres; as palavras delas lhes pareciam loucura. 12 Pedro, todavia, levantou-se e correu ao sepulcro. Abaixando-se, viu as faixas de linho e mais nada; afastou-se, e voltou admirado com o que acontecera.

O clima de abertura da manhã de Páscoa é caracterizado pela surpresa, espanto, medo e confusão (mulheres: v. 4 e 5; apóstolos: v.11; Pedro: v.12c).

Muitas vezes questionamos a incredulidade dos discípulos. Mas temos de admitir: não era fácil para eles.

A “ressurreição”, no mundo dos discípulos, era o que Deus faria no final dos tempos para todos os justos e mártires (cf. João 11.24).

Ela seria um evento de larga escala. Após o grande e final sofrimento de Israel, a todo povo de Deus seria dado nova vida em novos corpos.

Mas a ressurreição de Jesus acontece de forma inesperada. 

Na ressurreição, o Messias inaugura o novo mundo prometido por Deus através de seus profetas. Mas ela é, apenas, o start, o começo. O final ainda será consumado.

Exigirá dos discípulos de Jesus a celebração constante desse evento e a antecipação da futura realidade em seu estilo de vida, enquanto espera o que há de vir.

A ressurreição foi, sem dúvida, uma surpresa.

Nós, também, precisamos nos surpreender com essa realidade.

A crise hoje em relação à ressurreição é diferente da crise na época de Jesus.

Acreditar na ressurreição corporal dos mortos para filhos do iluminismo significa abrir mão de comprovações científicas, sem deixar de ser lógico.

Como disse John Stott: "Crer é também pensar".

Então, é possível acreditar na ressurreição de Jesus a partir da história revelada por Deus e pelas inúmeras evidências históricas.

Além disso, a ressurreição de Jesus, apesar de desafiadora para os primeiros discípulos, foi o que deu base para a origem e formação da igreja.*

Devemos, então, viver a surpresa da ressurreição a cada dia, a fim de experimentar o novo mundo que já começou em e através de Jesus.


quinta-feira, 31 de março de 2016

É tempo de ressurreição




por Valdir Steuernagel

Aliança Evangélica





Cristo ressuscitou! A partir do domingo de Páscoa, em seu calendário litúrgico, a igreja estará afirmando, sempre novamente, que Cristo ressuscitou. E essa ressurreição faz toda diferença do mundo. Ela é um ato fundamental e absoluto de Deus que afirma a esperança e anuncia uma nova possibilidade. Nem mesmo a morte é definitiva, pois a ressurreição é uma realidade.

Como igreja, nós anunciamos e somos chamados a viver a ressurreição a cada dia em meio à realidade que nos cerca e tanto em seu nível micro como macro.

Nossa nação está vivendo dias conturbados e tensos. O país parece paralisado e está raivoso. Dividido e conflitado. O povo está na rua e diferentes bandeiras estão sendo levantadas e um crescente clima de descrença no nosso sistema político se instaura. A Lava Jato não para de nos surpreender com seguidas operações e sabemos que isto é apenas o começo, apesar dos seus dois anos, na esteira da possível e necessária revelação de um caudal de lama corruptora e injusta que marca a nossa história e afeta todos os segmentos de nossa vida nacional, seja da parte do político que faz conchavos, do empresário que quer o contrato ou o gesto corriqueiro de querer “comprar” o guarda para não receber a multa.

Essa é a realidade do nosso país, que poderia ser descrita de muitas outras formas. Mas não é suficiente descrevê-la ou simplesmente fazer parte dela com a sua desesperança, raiva e indignação. É preciso transformá-la, e isso é marca do evangelho.

É tempo de ressurreição – e isto significa possibilidade de conversão e de esperança. Significa que a igreja e os cristãos precisam vivenciar um testemunho que aponte para Cristo e para a vivência de uma esperança que transforme a realidade. É claro que isto significa muitas coisas, mas eu só gostaria de apontar para algumas pistas:

Somos filhos do amor de Deus e buscamos a construção de uma sociedade onde as pessoas se encontrem.

Nossa sociedade está com os nervos à flor da pele. As brigas vêm rápido e já tememos cenas de violência explícita. É preciso desconstruir esse círculo de animosidade e de confronto ideológico; e é preciso que os cristãos se disponham a fazer isso. A confissão da nossa fé precisa ter uma expressão pacificadora. Nós propomos espaços de encontro sem derramamento de sangue e sem raiva nos olhos. Precisamos construir o Brasil para fora da presente crise.

Queremos a justiça e somos a favor da verdade!

Aprendemos com a Palavra de Deus e com a própria experiência histórica que não existe conciliação e reconciliação sem verdade, assim como não existe justiça sem verdade. Este é um momento propício para desvelarmos algumas das mentiras que fazem parte da nossa "cultura do jeitinho" e de levar vantagem. Essa cultura no exercício do poder, leva a esquemas de corrupção  tão intensos, corriqueiros e volumosos que consideramos difícil de acreditar, como vemos neste momento. O atual processo investigador não pode ser nem sustado, nem domesticado. É preciso ir fundo, ainda que vá longe e continue a nos assustar. E ao ir fundo e longe, também as nossas instituições religiosas não estão isentas de serem perscrutadas e avaliadas. Nós afirmamos que a justiça e a verdade precisam ter espaço para reinar entre nós e a partir de nós ao ponto de trazer nova esperança para a nossa gente e o nosso Brasil.

A democracia é tênue, mas é o melhor que temos.

Pode-se dizer que a democracia se constrói devagar e se mancha fácil. A Constituição de 1988, ainda é tênue, parcial e tem sido administrada por uma expressão política maiormente clientelista e utilitária. Assim, temos hoje um Brasil sem reforma política, em caos político, com instituições de estado frágeis e marcado por uma grave crise econômica. Um momento difícil a carecer de lideranças sólidas, compromissos claros e no qual, acima de tudo, as nossas instituições precisam funcionar para todos e ter as suas decisões respeitadas. A Constituição de 1988 trouxe uma segurança e uma estabilidade que precisa ser respeitada neste Brasil da crise e no Brasil pós-crise. Nós afirmamos a democracia, os Poderes e as suas respectivas áreas, bem como a construção de uma sociedade que afirme uma cultura de integração, paz e proteção dos pequenos e mais vulneráveis.

Neste tempo pascoal, nós afirmamos que a esperança é filha da ressurreição. É verdade que vivemos dias conturbados, mas também é verdade que estes não têm a última palavra. A última palavra é pronunciada por Deus e Ele nos anuncia que tem caminhos novos para todos que vivemos neste nosso tempo e neste nosso lugar. E o melhor que Ele tem para nós passa pela justiça, verdade, cuidado mútuo e vivência de comunidade. Por estes valores nos pautamos nestes dias e pela realização dos mesmos oramos, assim como a igreja tem orado no decorrer da história: PAI NOSSO, SEJA FEITA A TUA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU.

http://www.aliancaevangelica.org.br/news/0022-2016/