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sexta-feira, 22 de julho de 2016

Oração



Trecho do texto de N. T. Wright:
Integridade e Integração: Amando a Deus com Coração, Mente, Alma e Força
(Disponível em http://ntwrightpage.com/port/Integridade.pdf)

Algumas vezes, quando falo sobre oração, eu tenho a impressão de que para muitos cristãos isto é chato: todos sabemos que devemos orar, que deveríamos orar mais, mas nós todos acabamos por fazer de nossas maneiras tradicionais de orar mais uma obrigação do que um prazer.

Bem, a boa notícia é que há mais na oração do que frequentemente percebe o olho, incluindo olhos cristãos, e parte do mandamento de amar a Deus com coração, mente, alma e força é descobrir diferentes formas de nos abrirmos em amor e gratidão, em louvor e súplica, diante do Deus que nos ama e nos chama para amá-lo.

A tradição beneditina fala de trabalho como um tipo de oração, e meu testemunho como um acadêmico cristão é que de fato isto pode se tornar realidade.

Muitos artistas e músicos falam de seu trabalho como um modo de oração, e certamente seu efeito sobre nós indica que algo assim deve ser verdade.

Não conheço muitos políticos que falam de seu trabalho desta forma e talvez isso seja parte do problema que nós enfrentamos hoje.

O que eu sei é que a vida de oração é maior, mais rica, mais exigente e mais prazerosa do que a maioria de nós jamais sonhou, e que em sua essência é apenas isto, o chamado para amar a Deus com o nosso ser inteiro, transformando-o em palavras em horas formais de oração, deixando-o descansar no silêncio da contemplação, e colocando-o para trabalhar em nossos vários chamados. 

E será assim ao nos dedicarmos à oração, sozinhos e em público, em ocasiões formais e informais, em breves momentos e em horas contínuas, que nós descobriremos o que Jesus quis dizer com amar a Deus com nosso ser inteiro, e iremos além dos sacrifícios e ofertas da cultura ocidental contemporânea, em direção ao novo mundo que Deus quer que nós criemos com ele e sob sua direção.


sexta-feira, 15 de julho de 2016

BONHOEFFER E A LIBERDADE CRISTÃ

"Sentado no jardim do seminário, tive tempo de pensar e orar no que se refere à minha situação e a da minha nação, obtendo algumas luzes sobre a vontade de Deus. Cheguei à conclusão que cometi um erro em vir para os Estados Unidos. Nesse período difícil da história da minha pátria, devo viver junto com o meu povo. Não terei o direito de participar da reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não tiver compartilhado com meu povo as provas desse período. Os cristãos alemães terão que enfrentar a terrível alternativa de desejarem a derrota de sua pátria para a salvação da civilização cristã ou de desejarem a vitória de sua pátria e, conseqüentemente, a destruição de nossa civilização. Eu sei a escolha que devo fazer, porém não posso fazê-la e manter-me ao mesmo tempo em segurança".
Carta de despedida para o professor Reinhold Niebuhr.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), teólogo, obteve o título de doutorado com 21 anos. Depois de trabalhar em algumas igrejas na Europa e EUA foi reitor e professor do Seminário da Igreja Confessante na Alemanha, ala da igreja evangélica que não aderiu à política nacional socialista na primeira metade do século XX. Após o seminário ser fechado pela polícia nazista, Bonhoeffer se engajou no movimento de resistência contra Hitler, inclusive participando de uma conspiração para assassiná-lo. Foi morto aos 39 anos, poucos meses antes da 2ª Guerra terminar.
Em sua cela de prisão, foi encontrado esse lindo poema que aponta para o caminho da verdadeira liberdade cristã:
Estações na Estrada para a Liberdade ― 21 de abril de 1944
DISCIPLINA
Se buscas a liberdade, então aprende acima de tudo a disciplina da alma e dos sentidos, para que tuas paixões e teus membros não te conduzam em confusão de lá para cá. Castos sejam teu espírito e teu corpo, sujeitos à tua própria vontade, e obedientes para alcançarem o alvo para o qual eles te foram dados. Ninguém descobre o segredo da liberdade a não ser pelo autocontrole.
AÇÃO
Tenha coragem para fazer o que é justo e não o que a fantasia possa pedir; não percas tempo com o que pode ser, mas, corajosamente, apega-te ao que é real. O mundo das idéias é fuga; a liberdade só vem pela ação. Vigia além da ansiedade que espreita e dentro da tempestade de eventos, carregado somente pela ordem de Deus e por tua própria fé; então a liberdade exultantemente clamará para receber teu espírito.
SOFRIMENTO
Maravilhosa transformação! Tuas fortes e ativas mãos estão agora atadas. Impotente, solitário, vês o fim da tua ação. Impávido, inspiras profundamente e entregas tua luta por justiça ― silenciosamente e em fé ― à mão mais poderosa. Por apenas um inebriante instante, experimentas a doçura da liberdade; então a estendes a Deus, para que ele a torne completa.
MORTE
Vem agora, o ponto alto na estrada para a liberdade eternal. Morte, deixa cair as pesadas e sombrias correntes e destrói as paredes de nosso corpo mortal ― as paredes de nossa alma cega ― para que possamos, finalmente, ver o que os mortais nos tem impedido de ver. Liberdade, por quanto tempo a procuramos por meio da disciplina, da ação e do sofrimento. Morrendo, agora vemos tua face em favor de Deus.


terça-feira, 5 de julho de 2016

Ouvindo a Voz de Deus!



TEXTO: Jeremias 18.1-6

1 - O Senhor Deus me disse:
2 - Desça até a casa onde fazem potes de barro, e lá eu lhe darei a minha mensagem. 3 - Então eu fui e encontrei o oleiro trabalhando com o barro sobre a roda de madeira. 4 - Quando o pote que o oleiro estava fazendo não ficava bom, ele pegava o barro e fazia outro, conforme queria.
5 - Aí o Senhor me disse:
6 - Será que eu não posso fazer com o povo de Israel o mesmo que o oleiro faz com o barro? Vocês estão nas minhas mãos assim como o barro está nas mãos do oleiro. Sou eu, o Senhor, quem está falando.

Jeremias foi um dos grandes profetas de Deus em seu tempo. Ao ler este livro tão precioso da palavra de Deus, podemos perceber o quanto ele era sensível a voz do Senhor. Deus não mudou (Deus não precisa rever seus conceitos) e nunca mudará. Ele é o mesmo Deus que falava com Jeremias e através dele. Hoje, Deus se revela a nós, mas muitas vezes não percebemos. Estamos tão ocupados, tão atarefados que não conseguimos entender quando Ele nos fala. Isto, entretanto é extremamente perigoso, pois, terminamos por viver segundo nossas vontades, nossos conceitos, nosso coração e podemos nos enganar (Jr 17.9). Então, que tal ouvir a voz de Deus através da sua palavra e da oração?

Sem. Hevandro

sábado, 2 de julho de 2016

Entre as multidões e os discípulos


Ricardo Agreste

Como um cristão num país chamado Brasil, ao longo dos anos, tive que me habituar a observar e identificar dois ambientes bem distintos, nos quais a espiritualidade é exercida em nossa cultura. Um deles é o ambiente caracterizado pela “espiritualidade das multidões”, a qual se mostra confusa e sincrética, e diante da qual sempre me senti um tanto quanto resistente. O outro é caracterizado pelo que chamarei, mesmo correndo o risco de ser tido como pretensioso, de “espiritualidade dos discípulos”. Este é um modelo que sempre me pareceu mais consciente e coerente.

É preciso reconhecer que, diante destes dois modelos de espiritualidade, minha formação me condicionou a olhar com um perigoso desprezo para a espiritualidade das multidões. Ao longo da caminhada cristã, por muitas vezes, tenho ouvido que as multidões são inconstantes e utilitaristas. Elas estão sempre em busca do milagre imediato – aquela bênção que leva à cura da enfermidade, à solução para o problema financeiro. Fui também induzido a pensar que a genuína espiritualidade emerge de uma relação de discipulado com Cristo, baseada numa decisão consciente. Assim, somente a partir de uma entrega total de nossa vida ao Senhor e um compromisso de obediência à sua voz é que podemos experimentar a genuína espiritualidade. Por isso mesmo, precisamos tomar cuidado com a distração gerada pelas multidões e concentrar-nos na produção artesanal de discípulos de Cristo.

No entanto, relendo os Evangelhos, fui surpreendido, mais uma vez, pela pessoa de Jesus e suas atitudes. Confesso que, num determinado momento, esta surpresa tornou-se muito próxima de um sentimento de indignação em relação a ele, ao perceber que sua postura ia na contramão de tudo quanto eu cria e defendia. Foi quando fui surpreendido pela segunda vez; agora, contudo, comigo mesmo, quando constatei que meus sentimentos estavam bem mais próximos daqueles que, nos evangelhos, são chamados de fariseus e escribas do que dos verdadeiros seguidores de Cristo.

Jesus observou as multidões e foi tomado por uma profunda compaixão por elas, conforme os relatos de Mateus 9.36 e 15.32. Percebemos que o Filho de Deus, apesar de saber que aqueles homens e mulheres eram muitas vezes movidos por interesses não muito nobres – e não poucas vezes eram tomados pelas tais tendências utilitaristas de fé –, não deixava de sentir compaixão por eles. Muito pelo contrário; ele reconhecia que interesses difusos e tendências pragmáticas eram decorrentes do fato de estarem cansados e aflitos, como ovelhas sem pastor.

Os evangelhos nos apresentam um Jesus engajado no serviço às multidões, curando aqueles que tinham necessidade, expulsando os demônios dos que estavam oprimidos e anunciando o Evangelho do Reino como uma dádiva estendida a todos pelo amor e pela bondade de Deus. Em alguns momentos de seu ministério, cercado pelas multidões, o Mestre desafiou seus discípulos a não apenas olharem para elas com compaixão, mas, seguindo seu próprio exemplo, a servi-las. Diante disso, seus seguidores procuraram todas as formas de dissimulação, alegando os mais variados tipos de dificuldades. No entanto, Cristo foi enfático, ordenando que eles mesmos servissem àquelas pessoas envolvidas pelo modelo de espiritualidade que constantemente acusamos de ser inconsistente e utilitarista, conforme Mateus 14.15-16.

Não se trata de negar o fato de que Jesus tinha um grupo de discípulos com o qual gastava um tempo de maior qualidade e profundidade nos ensinamentos. Nem mesmo se pode negar que a genuína espiritualidade deve ser construída a partir da fé consciente na pessoa de Jesus, como o Deus encarnado que entra na história para morrer em nosso lugar. No entanto, o que se deve questionar é todo e qualquer modelo de espiritualidade que, em nome do discipulado com qualidade, gera discípulos que não sentem compaixão e não sabem conviver com as multidões aflitas e exaustas. 

Jesus, com a sensibilidade do Deus que é amor e com a sabedoria daquele que é o criador do universo, entrava em contato com o sofrimento das multidões, acolhendo-as em suas limitações teológicas e em suas motivações utilitaristas. A partir desse encontro de amor, fez de homens e mulheres verdadeiros discípulos! Da mesma forma, aqueles que se afirmam seus seguidores deveriam aprender a olhar com compaixão para as multidões e engajar-se no serviço a elas com amor e dedicação, criando oportunidades para que todos venham a compreender quem é Jesus e possam render-se ao seu amor. Então, alguns homens e mulheres, anônimos nas multidões, ganharão identidade ao deixarem de ser apenas consumidores de sua compaixão para se tornarem agentes da mesma.