Dados do IBGE colocam municípios do Estado como campeões em credos
Itamar Melo
Os dados sobre
religião do Censo 2010, divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), consagram o Rio Grande do Sul como o Estado
dos extremos religiosos. Estão em território gaúcho o município mais católico,
o mais evangélico, o mais umbandista, o mais islâmico e o mais mórmon do
país. O Estado tem a Capital mais judaica. Até entre os sem fé os gaúchos se
destacam: a única das 5.564 cidades brasileiras onde quem não tem religião é
maioria fica aqui: Chuí.
A principal explicação para a diversidade está na formação histórica do Estado.
Imigrantes europeus de forte religiosidade, especialmente italianos, fundaram
pelo Interior comunidades que hoje são os municípios brasileiros com maior
proporção de católicos. A imigração europeia também explica a liderança gaúcha
no ranking dos municípios mais evangélicos. São cidades fundadas por luteranos
vindos da Alemanha, que mantêm a tradição do credo de seus ancestrais.
Mas surpreendente é a força das religiões afro-brasileiras. Apesar de ser o
segundo Estado mais branco do país, o Rio Grande do Sul tem a maior proporção
nacional de adeptos da umbanda e do candomblé — 1,47%, quase cinco vezes o
percentual da Bahia. Estão em terra gaúcha as 14 cidades com mais seguidores
dessas religiões, a começar por Cidreira. No Estado, 58% dos fiéis afros são
brancos. Para o sociólogo da religião Ricardo Mariano, professor da Pontifícia
Universidade Católica (PUCRS), a explicação pode estar no sincretismo
vivenciado na Bahia, no Rio e em São Paulo:
— Na Bahia, existe um grande sincretismo afro-católico. Lá, a Igreja tem pleno
domínio dessa situação. Por isso, parte das pessoas dos cultos afros se
identifica como católica.
O Estado tem três municípios entre os cinco mais islâmicos, liderados por Chuí.
A presença de imigrantes do mundo árabe explica esse quadro. Essa imigração
também pode dar uma pista do motivo para Chuí ser a cidade onde mais gente se
declara sem religião (54,24%). Mariano tem suspeitas para explicar o fenômeno:
— Anos atrás, foram feitas acusações de que haveria terroristas islâmicos na
região, o que pode ter deixado as pessoas desconfortáveis. Outra possibilidade
é uma influência do Uruguai, um dos países mais leigos do mundo.
No caso dos mórmons, que registram alguns de seus melhores percentuais em
cidades gaúchas (chegando a 3,52% em Quaraí), Mariano observa que é preciso
investigar para saber a causa do fenômeno, mas acredita que ele possa estar
relacionado a algum trabalho missionário específico.
[Menos católicos, mais evangélicos e espíritas]
A Igreja Católica está perdendo espaço de forma acelerada no mercado da fé
brasileiro. Conforme o Censo 2010, a proporção de católicos no país caiu para
64,6%, contra os 73,6% de 10 anos antes. Em 1980, os católicos eram 89,2% da
população. Já há três Estados onde os seguidores do Vaticano não são maioria:
Rio de Janeiro, Rondônia e Roraima.
No Estado, a sangria de fiéis da Igreja acentuou-se em relação à década
anterior. Depois de cair de 81,3% para 76,4% entre 1991 e 2000, a proporção
despencou para 68,8% em 2010. Em termos absolutos, há menos católicos do que no
passado, no Estado e no país, apesar do crescimento populacional.
As ovelhas desgarradas desse rebanho estão alimentando as hostes de outros
credos e também o time dos sem fé. Já se declaram sem religião 8% dos
brasileiros e 5,9% dos gaúchos. Mas isso não significa avanço do ateísmo. O
IBGE descobriu que eles são muito poucos: 0,32% no Brasil, 0,47% no Estado. Uma
religião que teve avanço significativo, em termos percentuais, foi o espiritismo.
No Estado, passaram de 1,8% para 3,2% da população. O recuo dos católicos, no
entanto, está diretamente ligado ao aumento de 44% na proporção de evangélicos,
que passou de 15,4% para 22,2% da população do país em uma década.
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noticia/2012/06/dados-do-ibge-colocam-municipios-do-estado-como-campeoes-em-credos-3806966.html