Ed René Kivitz
Earl C.
Willer conta a história de Jim e Phillip, dois meninos que cresceram juntos e
se tornaram melhores amigos. Atravessaram a adolescência e a juventude juntos,
e depois de formados na universidade decidiram ser tornar marines, os fuzileiros
navais norte-americanos. Por uma casualidade rara, foram enviados para a
Alemanha e lutaram lado a lado em uma das mais cruéis batalhas da Segunda
Guerra Mundial. No meio da batalha, sob fogo cruzado, explosões e muitas
perdas, receberam ordem do comandante para que recuassem. Enquanto corriam em
fuga, Jim percebeu que Phillip não estavam com os que voltavam. Entrou em
pânico, pois sabia que se Phillip não retornasse em uns dois minutos, provavelmente
nunca mais o faria. Pediu ao comandante para que o deixasse voltar para buscar
o amigo, mas não obteve permissão, sob a justificativa de que seria suicídio.
Arriscando a
própria vida, Jim desobedeceu à ordem e voltou ao encontro de Phillip. Com o
coração quase explodindo e sem fôlego, sumiu entre a fumaça, gritando pelo nome
do amigo. Poucos instantes depois, tinha o amigo ferido nos braços, e tudo
quanto conseguiu foi presenciar o último suspiro de vida de Phillip.
Ao regressar
para juntar-se aos outros soldados, o comandante estava aos berros. Dizia que
aquele fora um ato impensado, tolo, inconseqüente e inútil. “Seu amigo estava
morto, e não havia nada que você pudesse fazer.” ”O Senhor está errado”,
replicou Jim. “Cheguei a tempo. Antes de morrer, suas ultimas palavras foram:
‘Eu sabia que você viria’”.
Esta
história pequena e verídica, registrada por John Maxwell em seu livro “The
theasure of a friend”, conduziu-me a muitas reflexões a respeito da amizade
genuína e despertou em mim alguns sentimentos extraordinários. Vivemos a era da
tecnologia, em que o valor de todas as coisas deriva de sua funcionalidade e
eficiência. Tudo ao nosso redor vai aos poucos se tornando maquina de
manipulação a serviço de nosso conforto e conveniência. Experimentamos um tipo
de tecnostress, tentando equilibrar uma parafernália eletrônica que nos oprime
com sues botões e suas falsas promessas de facilitação e simplificação da vida.
A maneira
que nos relacionamos com os objetos é transferida para as pessoas. [...]
Talvez de
tão acostumados a interagir com secretárias eletrônicas já não saibamos o que
fazer, com que tom falar, com que dosagem de afetividade temperar a fala quando
alguém de carne que osso nos atende. E assim vamos tocando os dias: maridos
usando esposas, filhos usando pais, patrões usando funcionários, pastores
usando seus rebanhos, empreendedores usando seus clientes, numa fila
interminável de relacionamentos utilitaristas, que acontecem dinâmica de um
vice-versa sem fim.
Com isso,
perdemos a capacidade de estar ao lado desinteressadamente mesmo quando a única
coisa que se pode fazer é estar ao lado. Manipuladores de máquinas, formos
mordidos pelo vírus da onipotência que a tudo pretende fazer funcionar, e já
não admitimos que há momentos na vida quando tudo o que podemos fazer é estar
ao lado e ouvir: ”Eu sabia que você viria”. [...]
Chega de
campanhas políticas, apelos institucionais, convocações para a “obra do
Senhor”, atividades religiosas e frenesi expansionista. Já é hora de pagar o
preço, qualquer que seja ele, de fazer parte de uma comunidade espiritual, e
não de uma organização eclesiástica.
Já é hora de
nos lembrarmos que “não sois máquinas, homens é que sois”, como profetizou a “pedra”
chamada Chaplin [Lc 19.40]. Quero amigos. Amigos que voltem ao campo de batalha
e arrisquem a vida por mim. Amigos que me tomem nos braços, ainda que seja
quase tarde. E quero viver a altura de cada um deles.